O zootecnista da Soesp explica como escolher o sistema de pasto para ter resultados mais efetivos na propriedade
Até a década de 1980, a pecuária de corte brasileira era marcada por grandes áreas de pastagens, e produção extensiva com método de pastejo contínuo na maioria das propriedades. Contudo, a pecuária evoluiu e com ela a necessidade de aumentar a eficiência das pastagens cresceu junto. Assim, técnicos e pecuaristas começaram a adotar o pastejo rotacionado, que proporciona maior otimização e controle das variáveis de produção da pastagem.
Porém, como saber a diferença e qual a melhor técnica? O zootecnista da Sementes Oeste Paulista (Soesp), Diogo Rodrigues, explica que basicamente, todo manejo de pastagem tem por objetivo produzir o maior número de plantas possível em determinada área, aliada a uma maior oferta de folhas em relação a colmos (talos) e material senescente (morto). Para conseguir isso, duas são as formas mais usuais de métodos de pastejo: contínuo e rotacionado.
Pastejo contínuo
Neste sistema a área de pastagem permanece ocupada pelos animais durante todo o período de produção. Normalmente nestas áreas, há uma baixa taxa de lotação, isso possibilita que a pastagem cresça em ritmo mais rápido do que é pastejada. Logo, observamos uma alta oferta de forragem em relação ao número de animais presentes na área (principalmente no período das águas), assim o ganho de peso individual é priorizado, pois os animais têm maior possibilidade de selecionar a fração da forrageira que mais lhe atrai, no caso, as folhas. Contudo, estes maiores ganhos individuais cobram um preço para a pastagem, pois na maioria dos casos, não havendo uma quantidade ideal de animais a pastagem tende a ficar desuniforme, com áreas superpastejadas e outras subpastejadas.
Além disso, por não haver nesse sistema um período de “descanso” para a pastagem se recuperar, e, na maioria das vezes, aliado à uma adubação ausente ou pouco eficiente, observamos neste tipo de sistema uma maior ocorrência da degradação de pastagem e do solo.
“O ideal é realizar um ajuste na carga animal, adicionando ou removendo animais da área conforme a disponibilidade de forragem. Assim como muitos produtores fazem, comprando animais no início do período das águas e vendendo no início do período seco”, relata o profissional.
Rotacionado
Neste método, a área de pastagem é subdividida em dois ou mais piquetes e estes são pastejados em sequência por um ou mais lotes de animais, geralmente em sistemas intensivos de produção. Conforme conta o zootecnista, nesse sistema existe uma demanda maior por mão de obra e exige um manejo mais tecnificado da propriedade e dos processos de produção, mas em compensação traz muitas vantagens também.
“Oferece maior controle sobre a qualidade e quantidade das pastagens e permite uma maior produção por unidade de área. Através dos períodos de descanso, a pastagem se recupera sem a interferência dos animais, chegando à altura ideal para um novo pastejo. Também evita a subutilização de áreas, ou seja, o pastejo é mais uniforme, maior eficiência e igual a maior produtividade do sistema”, completa. Ele também aponta que o pastejo rotacionado pode ser adotado em praticamente todo o Brasil e em todas as épocas do ano.
Por outro lado, comparado ao manejo contínuo, o sistema rotacionado demanda maiores custos e treinamento para sua implantação, principalmente para a adequação da estrutura (cerca elétrica, cochos e bebedouros).
Como ser produtivo
O pastejo rotacionado tem apresentado nos últimos anos mais produtividade que o contínuo. Isso pode ser comprovado por meio de estudos realizados na Nova Zelândia, da autoria de Juliano Alves de Almeida, Técnico em Zootecnia pela EAFU (Uberaba), graduado em Zootecnia pela FAZU (Uberaba), “Brasil x Nova Zelândia: diferenças e similaridades entre dois sistemas de produção a pasto”.
Estes demonstraram maior eficiência desse método. Como exemplo, o autor destaca que mesmo explorando espécies forrageiras de clima temperado, cujo potencial biológico é 2,0 e 2,5 vezes, menor que o das espécies tropicais, e em condições climáticas menos favoráveis, na média, os neozelandeses produzem 2,0 a 4,0 vezes mais forragem/há. Isso porque eles desenvolveram um suporte técnico-científico para explorar o pasto com alta eficiência (eficiência de pastejo de 50% da forragem disponível e mais de 80% da forragem acumulada).
O pecuarista neozelandês conhece bem o desenvolvimento da pastagem ao longo do ano, sabe exatamente a exigência de seus animais e o que a pastagem pode oferecer ao longo de cada estação do ano. “Com isso, eles conseguem aumentar ou diminuir a velocidade de rotação, uniformização da altura, trazendo mais animais de outras categorias para pastejar o excesso, ou seja, mantendo a taxa de lotação sempre em condições ideais, mas sem comprometer os custos da fazenda”, destaca Rodrigues.
Nas condições brasileiras, o sistema rotacionado tem se mostrado bastante eficiente também, saltando de menos de 1 UA/ha (média nacional), para até 15 UA/ha, com essa eficiência variando de acordo com o nível de tecnificação da propriedade.
Escolha da espécie interfere no manejo rotacionado
Quando o manejo é bem realizado e as características das plantas são respeitadas, todo tipo de forrageira pode ser utilizada em pastejos rotacionados. Segundo o zootecnista da Soesp, destaque para capins do gênero Panicum. “Eles apresentam elevada produtividade de matéria seca e alta qualidade da forragem, porém por ser de porte alto, podem eventualmente produzir bastante talo (colmo), se não forem manejados corretamente. Portanto o pastejo rotacionado favorece a boa produção e colheita deste material”, aponta.
Assim, para o gênero Panicum, a altura do pasto é uma estratégia amplamente utilizada para nortear o manejo de pastagens, permitindo maior eficiência produtiva do sistema como um todo. A altura deve ser sempre verificada frequentemente pela equipe de manejo da propriedade, devidamente treinada.
É preciso imaginar o sistema de produção de gado a pasto como uma balança, na qual devemos sempre buscar o equilíbrio. De um lado há a produção animal (representada neste exemplo pela taxa de lotação), do outro lado, a produção vegetal (representada neste exemplo pela taxa de acúmulo). Sempre que priorizamos um lado desta balança, inevitavelmente prejudicamos o outro. Por exemplo, se aumentarmos consideravelmente a taxa de lotação de uma determinada área, corremos o risco de provocar a curto/médio prazo a degradação da pastagem e do solo. Por outro lado, se a taxa de acúmulo de forragem for muito superior à demanda dos animais, teremos um aumento de colmo e material morto, com isso os animais terão dificuldade em pastejo, aumentando a perda de forragem e queda da qualidade, gerando menos engorda, menos leite e menores índices reprodutivos.
A consultoria é sempre importante, não só para a escolha da espécie forrageira mais adaptada. Por exemplo, em alguns casos a planta passa do ponto de entrada, por mais chuvas que o esperado, adubação, enfim, pode sair do planejamento. Saber qual atitude tomar, se irá roçar o capim, colocar animais menos exigentes para comer essa forragem de menor qualidade, qual será a melhor solução, um especialista em manejo de pastagem poderá auxiliar. “São nesses casos que o conhecimento de um especialista influência no resultado”, lembra Rodrigues.
Por fim, o zootecnista ressalta que independentemente do sistema de pastejo adotado, é imprescindível respeitar os limites do solo e da planta, fazendo uma orçamentação forrageira, para saber exatamente a quantidade de forragem disponível tanto nas águas quanto na seca. Somente assim será possível obter maior produtividade de forragem e maior lotação animal.
Tanto no pastejo contínuo quanto rotacionado, as forrageiras podem apresentar crescimento vigoroso, proteção do solo e competição de forma mais vantajosa com as plantas invasoras (daninhas), resultando em menor gasto com limpeza e manutenção das pastagens. “Além disso, o manejo correto também contribui para melhorar a nutrição do rebanho e, consequentemente, aumentar seus índices produtivos, reprodutivos e sanitários”, conclui.
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