IATF
ou Monta Natural? Não importa a decisão que o produtor tomar, a suplementação é
um item indispensável no manejo da vacada – matrizes e touros – nessa estação.
Neste artigo, o médico veterinário da Unidade Cuiabá do Grupo Matsuda, Rafael
Caputo, fala sobre a necessidade de um Planejamento Nutricional específico para
essa fase do rebanho, visando qualidade nutricional x produtividade da fazenda.
Por Rafael Francisco Vilatoro Aparício
Caputo (*)
O período de estação de monta de uma fazenda de
cria é um dos mais importantes de todo o ano e deve receber atenção especial de
toda a equipe que gere a fazenda, pois é nesse período que vai se determinar a
quantidade e qualidade da principal fonte de receita de seu fluxo de caixa: os
bezerros. A estação de monta de uma fazenda que produz com eficiência deve ser
planejada, no mínimo, um ano antes do seu acontecimento, pois é uma etapa
delicada e exige muito empenho da equipe (capatazes, vaqueiros, veterinários,
inseminadores, etc..). Ela deve ser planejada antes para que os
animais cheguem próximo a época das chuvas com bons escores corporais, boa
reserva de macro e micro minerais e sanidade. De modo geral, o pecuarista deve
se atentar à organização da estação, procurando saber quantas fêmeas irão
entrar em reprodução pela primeira vez, quantas primíparas serão expostas
novamente a IATF, o número de pluríparas, qual o protocolo de IATF que cada uma
das categorias serão submetidas e um dos pontos mais importantes e
determinantes na fase de reprodução, qual o manejo nutricional que cada uma das
categorias irá receber antes, durante e depois da estação. Deve-se ter um bom
planejamento forrageiro. Sem pasto de qualidade não há uma boa estação de
monta. As diferentes categorias têm diferentes requerimentos nutricionais.
Qualquer falha na suplementação desses animais pode comprometer o resultado da
atividade.
"A vaca em lactação tem uma enorme demanda de nutrientes, principalmente no período pós-parto. O leite é rico em nutrientes como cálcio, fósforo, proteína e lipídios. Todos esses componentes são reciclados e metabolizados no organismo e, posteriormente, direcionados para o leite."
Rafael Caputo
Feito o planejamento estratégico da estação, o
produtor precisa optar entre Estação de Monta Natural ou IATF. A grande
diferença entre os dois modos de sistema produtivo é que na monta natural, o
gestor da fazenda irá definir um período para estação de monta e irá soltar os
touros junto com a vacada. Durante esse período ele poderá realizar
diagnósticos de gestação pontuais e um final, quando o período for encerrado,
ou somente um diagnóstico final no encerramento da estação. Na estação de monta
que integra a IATF, os processos são diferentes: os animais são apartados em
lotes com diferentes pesos, categorias e escore corporal. Esses lotes são
submetidos a um protocolo de sincronização de cio e todas as fêmeas do mesmo
grupo são inseminadas no mesmo dia. Após a IATF os animais podem ser
ressincronizados ou, também, expostos a monta natural com touros de repasse. Independentemente
se a fazenda irá realizar uma estação de monta com manejos de IATF ou monta
natural, os cuidados com as diferentes categorias devem ser os mesmos. As
fêmeas devem ter boas condições nutricionais, assim como os touros também, no
caso de monta natural. A sanidade: vermifugação, vacinas e controle de
ectoparasitas devem estar em dia.
Além disso é importante que todos os animais que irão se reproduzir recebam uma suplementação mineral adequada. Nesse período os animais devem ingerir diariamente boas quantidades de macro minerais e principalmente micro minerais como Selênio, Zinco, Cobre e Manganês, essenciais em diversas funções fisiológicas da reprodução e do sistema imune do animal. Sempre é bom ressaltar que o estresse dos animais interfere nos resultados da reprodução. Em uma fazenda que realiza IATF é muito importante que o rebanho tenha um bom aporte desses nutrientes para garantir bons resultados. Os indicadores produtivos referentes a reprodução e fertilidade de uma fazenda são os números que irão determinar se o resultado da atividade pecuária será positivo ou não. Esses indicadores dependem de uma série de fatores como: sanidade, manejo, potencial genético, nutrição, entre outros. Dos fatores citados, a nutrição ocupa um papel limitante em relação ao bom desempenho reprodutivo do rebanho. Sendo assim, a boa condição corporal das vacas que irá determinar como serão esses indicadores.
As exigências nutricionais de uma vaca podem ser divididos
em manutenção, lactação, ganho de peso e, por último, reprodução, portanto se
uma vaca não for bem suplementada e seus requerimentos nutricionais de energia,
proteína, macro e micro minerais não forem atendidos o primeiro reflexo é a
diminuição da atividade reprodutiva. Pode-se afirmar, então, que a suplementação
mineral específica para cada categoria durante o período reprodutivo é de
extrema importância para obtenção de bons resultados.
Como já foi citado, as matrizes que irão participar de uma estação de monta devem ter boas condições corporais e de sanidade para enfrentar essa fase. Na maioria das regiões do país a estação de monta se inicia na transição da seca para o período mais chuvoso do ano, quando há maior oferta de pastagens. Portanto, quando as vacas são desafiadas a emprenhar em uma nova estação, elas acabaram de passar por um período adverso, onde há escassez de chuva e, consequentemente, quantidade e qualidade das forragens que diminuem muito.
Na estação mais seca do ano as brachiarias podem perder até a metade do teôr de proteínas que apresentam no período de verão. Além de terem, também, menos energia, minerais e serem menos atrativas para o gado. Diante disso é imprescindível que as fêmeas sejam suplementadas da maneira correta durante a seca pois, quando se inicia a estação chuvosa o rebanho precisa apresentar boas reservas nutricionais para se reproduzir.
O manejo
nutricional não irá depender somente das diferentes fases da gestação; irá
depender, também, da época do ano e da oferta de forragem que o animal tem a
sua disposição. Se a fazenda tiver condições de executar um planejamento
nutricional direcionado para cada categoria e para cada fase de gestação, os
resultados no final do ciclo serão superiores. A gestação de uma vaca pode ser
dividida em três terços: inicial, médio e final. Em cada uma das fases o
requerimento energético e de minerais é diferente. No terço final da gestação,
por exemplo, é o momento em que o feto se desenvolve com maior velocidade,
portanto, a matriz necessita de um maior aporte de macro minerais como fósforo,
cálcio e magnésio para promover um bom crescimento estrutural (tecido ósseo) do
bezerro que está em desenvolvimento.
Uma
maneira eficiente de suplementar as vacas no período mais seco do ano é o
fornecimento de suplementos minerais proteinados. Existem diferentes tipos de
formulações dessa classe de suplementos. A indicação de cada uma delas depende
do alinhamento de algumas informações da fazenda como, por exemplo, a oferta de
forragem que será disponibilizada aos animais, categoria e finalidade de cada
lote. Um ponto importante a ser citado é que os suplementos minerais
proteinados para o período de seca funcionam muito bem e deixam bons resultados
na propriedade desde que haja uma boa oferta de forragem, mesmo que seca. A
microbiota ruminal depende de capim para fornecer os nutrientes ao ruminante.
Mas, e os touros? - Os touros que iniciarão na próxima estação de
monta devem ter uma suplementação específica, que tenha a finalidade de
melhorar a qualidade do sêmen produzido. O suplemento mineral utilizado para
essa categoria, além de todos os minerais necessários (P, Na, S, Ca. Mg etc.)
deve conter altos níveis de micro minerais na sua formulação. Esses componentes
da dieta são responsáveis pela qualidade do sêmen e virilidade do animal na
estação de monta. Dentre os micro minerais os que tem maior importância na
reprodução são o Zinco, Selênio e Manganês. Esses minerais, além de contribuir
ativamente com o sistema imunológico dos animais, também são incumbidos de
participar da formação da genitália do macho, produção de espermatozoides
funcionais, aumento da motilidade do sêmen, multiplicação das células
testiculares, que são responsáveis pela produção de testosterona,
que fazem parte dos processos metabólicos endócrinos, entre outras funções primordiais
para a reprodução.
A vaca em lactação também tem uma enorme demanda de
nutrientes, principalmente no período pós-parto. O leite é rico em nutrientes
como cálcio, fósforo, proteína e lipídios. Todos esses componentes são
reciclados e metabolizados no organismo e, posteriormente, direcionados para o
leite. Se o animal não estiver recebendo uma dieta completa e balanceada, a
vaca começará a mobilizar esses nutrientes das reservas do organismo, podendo
assim, causar algum tipo de disfunção metabólica, como, por exemplo, a
hipocalcemia. Além disso, a produção de leite é comprometida a partir do
momento em que há qualquer déficit mineral do animal e a reprodução não
ocorrerá. A vaca, gradualmente, vai diminuindo a sua reprodução e isso causa um
impacto negativo para a cadeia produtiva.
Quanto aos bezerros, também é muito importante
suplementá-los. Os animais podem começar a receber suplemento mineral no cocho
desde a estação de nascimento para que já aprendam a visitar o cocho, junto de
suas mães, desde pequenos. Um bezerro se torna ruminante, ou seja, tem um rúmen
funcional a partir da décima segunda semana de vida. Desse momento em diante
pode-se considerar que ele não se alimenta mais somente de leite, mas também
degrada fibras vegetais. Com o fornecimento de suplemento mineral em um sistema
de creep-feeding, o processo de desenvolvimento do rúmen é antecipado. Isso faz
com que o bezerro se torne um ruminante eficiente antes daqueles animais que
não recebem suplementação. Alguns componentes presentes no suplemento mineral
como sais de sódio e carboidratos que geram ácidos graxo voláteis, fazem com
que ocorra um desenvolvimento efetivo das papilas ruminais e isso torna o
processo digestivo do animal mais eficiente. Dessa maneira, os animais que
recebem suplementação podem ser desmamados com menos tempo e com maior peso ao
desmame, o que adiantará o seu abate, além de sofrerem menos com a separação
das mães. Realizando esse tipo de manejo as vacas têm mais tempo para
reestabelecerem as suas reservas de nutrientes e se reproduzirem novamente.
Não existe diferença entre Estação de Monta
Natural ou IATF, quando se trata de nutrição e o
objetivo é o mesmo, isto é, a reprodução. Se o objetivo é produzir touros e
matrizes ambos devem receber uma suplementação específica para a reprodução. Um
suplemento que atenda todos os requerimentos minerais, rico em micro minerais e
que também forneça boas condições para a microbiota ruminal. Partindo do
princípio de que os animais foram suplementados durante toda a fase de cria, o
momento correto para trocar o tipo de suplemento mineral é de, aproximadamente,
trinta dias após o desmame. Na fase de recria os animais ganham muito peso,
pois é um momento de crescimento. Nesse período são construídos tecido
muscular, tecido ósseo e os diferentes sistemas do organismo são desenvolvidos,
portanto, precisam de um bom suporte de energia, proteína e minerais para que o
animal expresse todo o seu potencial genético.
(*)Rafael Francisco Vilatoro Aparicio Caputo é médico
veterinário graduado na Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba – UNESP
-SP e Membro do Departamento Técnico de Nutrição Animal da Unidade Cuiabá.
Rafael também é produtor rural.
via assessoria
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