Com o preço
dos alimentos sendo um dos fatores principais para a elevação da inflação, são
necessárias ações para conter a crise dos fertilizantes
São Paulo – A crise dos fertilizantes - que está ligada diretamente com a elevação dos preços internacionais - é uma preocupação constante do agronegócio em todo o mundo. O atual aumento do preço do insumo no mercado é motivo de preocupação de especialistas, que apontam a possibilidade de uma crise alimentar de grandes proporções.
O Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), mostrou que a alimentação está entre os fatores mais
afetados pela inflação no último mês no Brasil. Tivemos o registro de altas em
alguns alimentos para o consumo em domicílios, como é o caso do feijão-carioca,
que registrou alta de 9,74% no mês de junho. A tabela do IPCA ainda mostra a
variação em outros alimentos, como o fubá (0,53%), abobrinha (7,21%), pepino
(8,81%), morango (13,30%), dentre outros. Ao mesmo tempo, o tema da guerra na
Ucrânia e seu impacto no agronegócio voltaram aos holofotes após o diálogo
entre os presidentes do Brasil e Ucrânia onde, dentre os temas debatidos,
estavam o bloqueio à saída de grãos do país invadido.
Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza,
empresa especializada em assessoria para o comércio exterior, aponta que a
crise dos fertilizantes é um dos fatores principais para o aumento do preço dos
alimentos. Além de afirmar que a guerra na Ucrânia continuará a ter impactos
visíveis em todo o mundo, seja no valor dos insumos para o agronegócio ou no
preço dos combustíveis.
“O nosso agronegócio precisa de
alternativas imediatas para essa crise. Em muitos casos, a crise dos
combustíveis, que também afeta o agronegócio, é mais debatida por se tratar de
algo visível para todos os brasileiros. Mas o aumento do valor dos
fertilizantes atinge diretamente a inflação dos alimentos”, defende
Pìzzamiglio.
A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), em 2021, revelou, em estudo, que o agronegócio
brasilero é responsável por alimentar 10% da população mundial. “Com uma crise
de dimensões internacionais, proporcionada principalmente pelo conflito militar
na Ucrânia, nós vivenciamos um aumento significativo do valor dos alimentos que
pode causar uma crise alimentar em todo o mundo. Essa hipótese não está fora de
questão”, defendeu o Executivo.
Outro ponto que é analisado no comércio
exterior é a desorganização da cadeira para o comércio internacional dos
fertilizantes. Pizzamiglio explica que “com a pandemia e a guerra, as cadeias
ficam desorganizadas. Principalmente quando consideramos o fechamento de portos
estratégicos para o comércio internacional e as sanções à Rússia, que é o
principal fornecedor internacional desses produtos. Em resumo, há sim a oferta
do produto, porém o escoamento da produção está dificultado”, afirma.
No caso da Rússia, apesar das sanções,
o Brasil segue importando os produtos do país. Além disso, o governo
russo garantiu o fornecimento. Segundo o especialista, até mesmo o Governo
norte-americano, tem estimulado o retorno das importações de fertilizantes da
Rússia, para não prejudicar sua produção interna.
O Brasil é o quarto maior consumidor de
fertilizantes do mundo e mantém uma dependência do mercado externo para a
atuação do agronegócio, que é o motor da economia nacional. Para o executivo,
precisamos de ações contundentes, com o objetivo de aumentarmos a produção
interna, até mesmo para passarmos de um país que importa os fertilizantes para
uma nação que exporta o insumo. Porém, Pizzamiglio
ressalta que isso é um projeto de longo prazo.
“Para nos tornarmos um país que vende
esse insumo para outras nações, precisamos fazer o ‘dever de casa’. Mas isso
depende muito das políticas públicas e o avanço do setor e, até mesmo, do
investimento privado. Deste modo, precisamos, neste momento, avançar nas
negociações internacionais, comprando o insumo de países diversos, até
constituirmos uma produção nacional que atenda a demanda interna e a externa”,
completa.
O executivo completa, reafirmando que
existem outros fatores para o desbalance inflacionário. Como é o caso do preço
da gasolina e da energia, dentre outros derivados do petróleo. Porém
ressalta, que a crise dos fertilizantes é sim um dos fatores principais de
aumento no preço dos alimentos em nível internacional. A Associação Brasileira
de Supermercados (Abras), já aponta o aumento de alguns itens da cesta básica
no país, como é o caso do feijão, que teve aumento de 28,46% e o óleo de soja,
com aumento de 22,57%.
O Banco Mundial, no início da invasão
russa no território da Ucrânia, disse que os preços dos alimentos podem ter
aumentos por volta dos 20% até o final de 2022. Análise motivada também pela
economia do país invadido, que é um dos grandes exportadores de grãos do mundo.
via assessoria
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